por Márcio Braga
Todo cuidado é pouco! Em vez de aproveitarem as novas arenas construídas para a Copa
do Mundo como fontes de novas receitas, os clubes brasileiros podem
acabar pagando uma conta altíssima. O jogo de inauguração da arena de
Brasília é emblemático. O Santos tem o mando de campo, o Flamengo tem a
torcida e nenhum dos dois fica com o dinheiro.
futebol
na administração do estádio, que, no fim das contas, é de futebol. Os
clubes correm sério risco de sacrificar projetos muito mais rentáveis e
adequados às suas necessidades para pagar a conta desse investimento
bilionário, pois sãos eles os principais, senão únicos, responsáveis
pelo público. Uma boa evidência disso é a situação do Flamengo, que está
na Gávea desde 1932 e teve seu estádio ativo até a década de 60, quando
cedeu parte de sua área para a Rua Mário Ribeiro e o anel de tráfego da
Lagoa, colaborando para facilitar o trânsito entre a Zona Sul e a Barra
da Tijuca.
Em 2007, o Flamengo
tinha todas as autorizações e licenças necessárias para o Programa de
Revitalização da Gávea, que incluía a construção de um estádio novo para
30.000 lugares, ampliação das instalações para esportes olímpicos,
expansão da sede social e construção do Centro de Excelência de Remo,
com garantia de viabilidade econômica sustentável pela integração de um
centro de lazer e compras, com lojas, cinemas, restaurantes, espaço para
eventos e estacionamento para 1.836 carros, que funcionaria
independente dos dias de jogo e, segundo a FGV, geraria mais de 3.000
empregos diretos. Com o apoio das autoridades e de 73% dos moradores da
região, conforme pesquisa feita pelo Ibope à época, esta iniciativa
revitalizaria o clube e toda área ao seu redor.
Tudo mudou quando o Governo decidiu privatizar o Maracanã e encomendou
estudos à empresa americana Booz Allen Hamilton, que apontou que o
Flamengo era responsável direto por 70% das receitas do Maracanã. Diante
deste número, o governador Sérgio Cabral resolveu revogar a autorização
que o Flamengo havia recebido de sua antecessora e acabou com o
Programa de Revitalização da Gávea, dizendo que o Maracanã seria do
Flamengo. Então, o hoje prefeito, à época secretário de Esporte, Eduardo
Paes, começou a estruturar a privatização do estádio, incentivando que
Flamengo, Fluminense e CBF formassem um consórcio com uma empresa
inglesa chamada ISG, que se apresentava como braço da IMG, hoje sócia de
Eike Batista na IMX.
Flamengo, Fluminense, CBF e ISG assinaram protocolos em 2008 e
investiram em estudos de viabilidade, projeções econômico-financeiras,
pesquisas de mercado e projetos arquitetônicos e de engenharia para
remodelagem e reforma do Maracanã, que custaria R$ 600 milhões e seria
paga pela ISG, através de seu Fundo Stadia, sem nenhum investimento
público. Tudo mudou novamente, em 2009, com a Odebrecht se associando à
ISG e impondo mudanças aos protocolos já assinados em 2008 com os
objetivos de elevar o custo da obra para R$ 1 bilhão e excluir Flamengo,
Fluminense e CBF do eixo central do consórcio. Hoje, depois de receber
bem mais que R$ 1 bilhão dos cofres públicos, a Odebrecht detém 90% do
consórcio que pretende administrar o estádio por 35 anos, e os clubes
foram excluídos no próprio edital de privatização feito pelo Governo do
Estado.
Mas algumas coisas não mudam: o Flamengo continua sendo responsável por
70% do potencial de receitas do futebol do Rio de Janeiro e, enquanto
não constrói seu próprio estádio, joga em casa no Maracanã e na maioria
das arenas da Copa do Mundo, afinal, segundo pesquisas do Ibope, os
torcedores rubro-negros são maioria em todos os estados do Brasil,
exceto Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo, onde é a 4ª maior
torcida. Por essas e outras, os clubes brasileiros não podem abrir mão
dos seus estádios. O Flamengo, de preferência na Gávea, como instrumento
de revitalização do clube todo, e a exemplo de Chelsea e Paris
Saint-Germain, cujos estádios aumentam muito suas receitas e se
localizam em áreas nobres de Londres e Paris, que, diga-se de passagem,
também contam com estádios monumentais como Wembley e Stade de France.
Marcio Braga
Marcio Braga é o presidente que mais vezes comandou o Flamengo
(1977-1980, 1987-1988, 1991-1992 e 2004-2009) e mais títulos de
expressão conquistou, dentre eles, os de Campeão Brasileiro de 80, 82,
83, 87, 92 e 2009, dois Tri Campeonatos Estaduais (78/79/79 e
2007/2008/2009) e a Copa do Brasil de 2006.
Fonte: Torcida Flamengo